EL VIDEO
Discurso de Gabriel Boric
Mafalda, na porta de seu prédio. Aqueles que desejarem fazer um tour ‘mafaldiano’, podem começar por aqui: Calle Chile 371, quase esquina com a rua Defensa, bairro de Monserrat. (Traductor de idiomas arriba a la derecha)
Por Ariel PALACIOS
Mafalda, a inconformista menina-filósofa de humor ferino, que disseca a conjuntura mundial e é apaixonada pelos Beatles (e odeia a sopa que sua mãe prepara) é o cartum argentino mais famoso em todo o planeta. Objeto de cult há décadas, foi criada pelo desenhista Joaquín Lavado Tejón, a.k.a. “Quino”. No final dos anos 60 ela já era considerada “cult” e celebridades como Umberto Eco e Julio Cortázar expressavam opiniões sobre essa menina (Cortázar expressava preocupação pelo que Mafalda eventualmente poderia pensar sobre ele).
Originalmente, Mafalda foi criada para ser a garota-propaganda de uma marca de eletrodomésticos. Mas, adquiriu vida – e tirinha – própria, na qual atacava a guerra do Vietnã, a Guerra Fria, o capitalismo selvagem, e também o totalitarismo, a Cortina de Ferro e a violência policial.
Durante décadas, o lugar de residência de Mafalda – a menina-filósofa criada pelo cartunista Quino – foi um mistério. Era vox populi que ela ‘morava’ na capital argentina. No entanto, o bairro era desconhecido. Mas, há poucos anos esse segredo foi revelado por intermédio de um grupo de jornalistas, fãs de Quino, que analisaram cada detalhe das declarações do cartunista à imprensa na qual dava pistas sobre o eventual ‘bairro mafaldiano’. Além disso, o grupo verificou que diversos prédios de uma área central de Buenos Aires correspondiam aos desenhos das tirinhas de Quino, além do ônibus da linha número 86, que “passava” pela tirinha.
Posteriormente, Quino confirmou os resultados da pesquisa sobre onde morava e brincava com seus amigos a menina autora de frases como “hoje entrei no mundo pela porta traseira” e “não é verdade que o passado foi melhor, o que acontece é que aqueles que estavam em má situação ainda não haviam percebido isso”.
Mafalda, seus pais e seu irmão Guille moravam na rua Chile, 371, no décimo andar, no mesmo prédio onde residiu nos anos 60 seu criado Quino. Desse lado da rua, na calçada do prédio de Mafalda, é o bairro de Monserrat. A calçada da frente pertence ao bairro de San Telmo.
Quino retratou seu edifício tal e qual era, com o detalhe da maçaneta de bronze no portão de entrada, registrado em vários quadrinhos no qual Mafalda está sentada, no degrau da frente.
Na esquina, na frente do prédio, está uma escultura de Mafalda feita pelo artista plástico Pablo Irrgang, em tamanho ‘real’.
No mesmo quarteirão, na esquina com a rua Balcarce, está o estacionamento onde o pai da heroína de Quino guardava todas as noites seu carrinho Citröen, com o qual a família passeava e ia de férias.
Na frente do prédio de Mafalda, atravessando a rua, já em San Telmo, está a banca de jornais de “Don Jorge” freqüentada pela menina-filósofa. A banca (kiosco de diarios, em espanhol) ainda está lá, embora com diferente dono.
“¿Sabían que Almacén Don Manolo vende baratísimo?…”
A uma quadra dali, na rua Balcarce 774, está o antigo armazén “Don Manolo”, do pai de Manolito, amiguinho de Mafalda que ficava no caixa sonhando em ser Rockfeller. Posteriormente o armazém transformou-se um quiosque e mais tarde tornou-se uma loja de souvenires mafaldianos. A família propietária era a mesma dos tempos de Quino. Quem atendia ali é o filho de Don Manolo, isto é, o póprio ‘Manolito’.
Na esquina da rua Peru e da avenida Independencia está a velha escola onde estudavam Mafalda com sua turma de amigos: Felipe, Miguelito, Susanita, Manolito e Libertad. De todo o entourage mafaldiano, quem mais padecia ir à escola era o dentucinho Felipe, que sempre se distraía com outras coisas. Ele próprio admitia com a emblemática frase dos vagais: “até minhas fraquezas são mais fortes do que eu!”.
Charles M. Schultz (1922-2000), o criador do personagem Snoopy, da tirinha Charlie Brown, costumava definir Quino como “um gigante”. Acima, Quino e sua filha Mafalda.
Na Buenos Aires de tinta nanquim ela nasceu “oficialmente” no dia 15 de março de 1962. Nessa data ela foi criada para uma propaganda de um eletrodoméstico da empresa Mansfield. Com esta data ela teria hoje 53 anos.
Mas, para os portenhos deste nosso mundo de carne e osso, sua estreia para o público foi o 29 de setembro de 1964, quando virou tirinha no jornal “El Mundo” (periódico que não existe mais). Isto é, tornou-se cinquentona no ano passado.
Nessa ocasião, no entanto, Mafalda não “nasceu” com 0 anos…ela tinha “6 anos”. Desta forma, se quando apareceu para os leitores pela primeira vez tinha uma idade “quadrinhística” de seis anos de idade (ia na escola), agora ela teria 56 anos.
Mafalda foi publicada somente entre 1964 e 1973. No entanto, a tirinha continua sendo um boom de vendas em inúmeras reedições na Argentina e no resto do mundo.
Depois de Mafalda, Quino continuou tendo amplo sucesso com outras charges e tiras. Desde os anos 70 o desenhista reside na Europa.
RENDEZ-VOUS DOS PAIS DE MAFALDA E MÔNICA
Nesta terça-feira, 21 de abril, o cartunista brasileiro Mauricio de Sousa, “pai da Mônica”, terá um rendez-vous público com Quino, “pai da Mafalda”. O evento histórico será no Centro Cultural Brasil-Argentina (CCBA), às 11h. O motivo desta reunião de cartunistas é a entrega a Quino e ao acervo do CCBA, de um desenho da Mônica, de autoria de Mauricio de Sousa, em homenagem aos 50 anos da Mafalda.
A cerimônia será presidida pelo Embaixador do Brasil em Buenos Aires, Everton Vargas.
PEQUENA ANTOLOGIA DE FRASES DE MAFALDA
“Mais do que um planeta, este aqui é uma grande casa da mãe Joana espacial!”
“O negocio é encarar a artificialidade com naturalidade”
“O pior é que a piora começa a piorar”
“Todos acreditamos no país! O que já não sei a esta altura é se o país acredita na gente…”
“Estamos fritos rapazes! Acontece que, se a gente não se apressa em mudar o mundo, depois é o mundo que muda a gente…”
“E Deus terá patenteado a ideia deste manicômio redondo?” (pensa, depois de olhar para o globo terrestre na sala de sua casa)
“Parem o mundo, que eu quero descer!”
“Não há nada! Em todos os canais só há televisão!” (Mafalda, procurando algum programa bom na TV)
“E por favor, senhor, que nunca sejamos o presunto do sanduíche internacional”(Mafalda, à noite, rezando)
“Todos acreditamos no país…o que a gente não sabe é se neste ponto das coisas o país acredita na gente!”
“Se viver é durar, prefiro uma canção dos Beatles em vez de um long play dos Boston Pops”
“Errare politicum est”
“Não é que não haja bondade..o que acontece é que ela está incógnita”
De Manolito: “Os cheques de teus insultos não possuem fundos no banco de meu ânimo”
De Manolito: “Fala-se muito sobre depositar confiança, mas nunca dizem os juros que pagam”.
De Manolito: “Nossa mãe! Como é possivel que seja tonto, e ainda por cima, ad honorem?”
De Susanita: “Amo a Humanidade..o que me enche a paciência são as pessoas”.
De Miguelito: “Não quero brinquedos que me ensinem a matar…quero ser autodidata!”
De Felipe: “Decidi enfrentar a realidade. Portanto, quando a realidade fique bonita, me avisem”.
Da pequena Libertad: “Uma pulga não pode picar uma locomotiva. Mas pode encher de picadas o maquinista”…
De Guille: “Quando um país fica gasto, onde é que se joga fora?”
O escritor argentino Julio Cortázar, que queria saber o que Mafalda pensava dele.
FRASES DAQUELES QUE QUERIAM TER SIDO AMIGOS DA MAFALDA
De Julio Cortázar, em uma entrevista em 1973: “O que é que eu penso da Mafalda? Isso não importa! O importante é o que é que a Mafalda pensa de mim”
De Umberto Eco: “Já que nossos filhos preparam-se para ser – por escolha nossa – uma multidão de Mafaldas, nos parece prudente tratar Mafalda com o respeito que merece uma personagem real”
PERFIL: Ariel Palacios é desde 1996 o correspondente em Buenos Aires do canal de notícias Globo News, para o qual cobre os países da América do Sul. Ele foi o correspondente de O Estado de S.Paulo (1995-2015), da rádio CBN (1996-1997) e da rádio Eldorado (1997-2005). Foi colunista da Revista Imprensa e colabora eventualmente com o Observatório da Imprensa.
Em 2013 publicou “Os Argentinos”, pela Editora Contexto, uma espécie de “manual” sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com o correspondente internacional Guga Chacra, escreveu “Os Hermanos e Nós”, livro sobre o futebol argentino e os mitos da “rivalidade” Brasil-Argentina.
Em 2014 recebeu o Prêmio Comunique-se de melhor correspondente brasileiro de mídia impressa no exterior.
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